Psicoterapia infantil com base na psicologia analítica
Apesar de seus tropeços e dificuldades, a criança possui uma facilidade surpreendente para a renovação e para transpor obstáculos. Teoricamente, ela pode ser inserida em um processo de análise com base na Psicologia Analítica por volta dos 4 anos de idade. No entanto, o que realmente delimita sua aptidão para se beneficiar da psicoterapia é sua capacidade de interagir com o outro e expressar-se por símbolos em suas brincadeiras, desenhos, sonhos, fantasias e jogos.
Diferentemente do adulto, que pela racionalização cria uma ruptura com o “Si Mesmo”, ou seja, perde o elemento simbólico, nas crianças podemos perceber o material simbólico, arquetípico, concretizar-se, pois ela tem poucas barreiras defensivas. Sendo mais livre e espontânea, tem um contato direto com o inconsciente, o que facilita sua sintonia com o universo simbólico.
Muitas questões técnicas aparecem no atendimento infantil: atender a família; falar com outros profissionais que cuidam da criança, como médicos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, professores; participar ou não das brincadeiras; acolher ou devolver para a criança o material que ela traz; colocação de limites; resolver que material, jogos ou testes devem ser utilizados com cada uma.
Dentro da Psicologia Junguiana não existe um método no qual nos possamos basear, pois Jung considerava fundamental que cada um desenvolvesse a sua criatividade, tomando cada indivíduo como um ser único e, como tal, requerendo diferentes abordagens por parte do terapeuta. Assim, a flexibilidade e a criatividade do analista devem ditar as diretrizes a seguir, o que lhe confere liberdade e permite a aproximação de sua criança interior e, consequentemente, da criança sob seus cuidados.
O material utilizado ao longo do processo vai delineando o caminho a percorrer. A criança tem o inconsciente mais aberto, o que permite vivenciar, conhecer, explorar o símbolo de forma concreta, e facilita muito o desenvolvimento do processo analítico.
Na minha experiência de atendimento infantil, percebo que, devido à ligação que a criança mantém com o inconsciente dos pais, sua submissão à análise acaba fazendo um resgate de toda a família e mostrando os símbolos de cada um. Com base nos dados colhidos, ofereço atendimento e suporte aos pais, porém sempre respeitando a alma, validando a vida interior do adulto e reconhecendo a existência da criança interior necessitada de cura em cada um.
Da mesma forma, é notório que pais que já se submeteram à análise compreendem melhor o que o analista diz, contribuindo mais efetivamente para o tratamento de seus filhos.
No meu consultório utilizo, como recurso para o tratamento de crianças, trabalhos corporais, artísticos, desenho, pintura, colagem, argila, pirógrafo, trabalho com sonhos, contos de fadas, mitos, jogos, fantasias, teatro, e utilizo também a metodologia Sandplay, da psicomotricidade, bem como técnicas de relaxamento, conforme a demanda e a escolha do caminho a ser percorrido por cada criança.